Mercado em Movimento com André Alves

Mercado em Movimento com André Alves

O mercado de saúde suplementar no Brasil envolve  a atividade da operação de planos e seguros privados de assistência médica à saúde, referidos simplesmente como planos ou seguros de saúde. A área que também sofreu com a crise, já apresenta sinais de melhoria e os movimentos desse mercado dimensionam o potencial que ele oferece. No Brasil são 24% da população com planos de saúde, ainda existe uma série de oportunidades, melhorias e ajustes a serem realizados, mas é inegável que esse mercado é a “bola da vez”.

 

A Moving Market conversou com André Alves; Ele é economista, especialista em inteligência de mercado, consultor de planejamento estratégico, atua no mercado de Saúde Suplementar há mais de cinco anos e desenvolve conteúdos periódicos voltados para esse mercado com o tema disrupção no mercado de saúde suplementar. O bate papo com o André  foi sobre oportunidades, fusões e aquisições, mudanças e movimentos desse imenso mercado de saúde suplementar.

  1. Na série de artigos que você e o Rafael Esteves publicam provocando o mercado de saúde suplementar sobre a disrupção desse setor, o que mais chama a sua atenção em relação a esse segmento que é a “bola da vez”?

O mercado de saúde no Brasil é uma grande oportunidade, atualmente o país possui cerca de 209 milhões de habitantes e apenas 24% (47 milhões) da população tem acesso a um plano de saúde. O restante da população é amparada pelo SUS que, embora seja uma referência apontada pelo Banco Mundial, ainda apresenta muitas fragilidades e desafios em relação à quantidade e qualidade do atendimento prestado. Para se ter uma ideia, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), pessoas sem plano de saúde tem três vezes menos médicos à disposição.

Dado o tamanho da oportunidade alternativas aparecem e empoderam os consumidores, que buscam e precisam de atendimento, sobretudo a um preço acessível.

Hoje já são cerca de 263 startups no setor de saúde, além de diversas clínicas populares e o que mais me chama atenção é a velocidade com que as mudanças estão ocorrendo, a disrupção vem a passos galopantes e não demora muito novas tecnologias (inclusive chinesas) transformarão o acesso a saúde no Brasil.

  1. Sabemos que o mercado de saúde suplementar oferece muitas oportunidades, mas ao mesmo tempo ele é extremamente burocrático e engessado, na sua visão como as operadoras podem superar esses obstáculos e conseguirem bons resultados?

A burocracia sempre foi um grande problema para esse mercado e sugiro as operadoras repensarem os seus processos e reverem o que é realmente necessário, desde a venda de um plano de saúde até a autorização de procedimentos complexos. Saliento que órgãos reguladores estão atentos às mudanças e movimentam-se favoravelmente, um exemplo disso é o planejamento estratégico da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que conta com diversos objetivos, dentre eles se destacam:

    1. Assegurar mecanismos de governança que favoreçam a integração, inovação dos processos e gestão de riscos
    2. Modernizar a infraestrutura e soluções de Tecnologia da Informação alinhado às boas práticas de governança

O CFM é outro exemplo ao tentar lançar as regras para a telemedicina (resolução 2.227), apesar de revoga-las. Algumas operadoras também procuram desburocratizar seu atendimento aos clientes com plataformas de vendas on-line, atendimento/autorização via WhatsApp, dentre outras ações.

Ressalto que a burocracia tende a se tornar um problema cada vez maior, pois distancia as operadoras de seus beneficiários. No passado ela não era um fator que pesava na decisão do cliente, pois não se tinha alternativas, mas com a entrada de novos players nesse mercado o cenário muda e as operadoras precisam atender bem (com qualidade e agilidade), ou se repetirá o exemplo da UBER e taxista, só que agora na saúde.

  1. Em um dos artigos publicados na série de vocês, foi falado sobre a Hapvida assumindo a dianteira nesse movimento desse mercado. Na sua visão essas aquisições e fusões são a tendência e porquê?

As aquisições e fusões são tendências das operadoras de grande porte, sobretudo no estado de São Paulo que hoje conta com a maior taxa de cobertura do país (41%). Com o mercado saturado a estratégia mais rápida de crescimento de carteira são as aquisições e fusões e faz parte da seleção natural do mundo dos negócios.

O crescimento inorgânico da Hapvida é uma estratégia da empresa que, além de visar um aumento substancial na carteira deseja expandir suas fronteiras de atuação.

  1. Nos últimos anos fala-se muito sobre atenção primária a saúde como a “solução” para as operadoras, esse tipo de serviço é de fato uma solução para todas as operadoras ou é um mecanismo que se encaixa em determinadas estruturas?

A atenção primária apresenta-se como uma alternativa para controlar os custos assistenciais e prestar um atendimento mais eficiente, focando inclusive a prevenção. Ela representa também uma mudança de cultura médica e dos beneficiários e por isso é natural encontrar resistência de ambos os públicos.

Acredito que a atenção primária é aplicável a qualquer operadora, independente do seu porte, mas para todas demandará investimentos em estrutura física, corpo clínico, treinamento e conscientização, além de refinamento de processos.

  1. Uma pergunta provocativa que é feita nos artigos publicados por você, eu gostaria de finalizar o nosso bate papo com ela. Qual deve ser o posicionamento das operadoras hoje para garantir uma sustentabilidade futura?

O primeiro passo é mudar a mentalidade e entender que o jeito de fazer negócios que dava certo no passado não será o jeito que dará certo no futuro. As mudanças que as operadoras devem fazer passa pelos questionamentos anteriores como por exemplo a desburocratização de processos, o investimento na experiência e encantamento dos clientes, foco na prevenção de doenças, utilização de novas tecnologias e, na minha opinião, a mais importante de todas, a aproximação com startups buscando modelos inovadores.

 

 

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