O mercado de trabalho principalmente no Brasil passa por dificuldades que vão além da capacidade individual das pessoas se capacitarem para conseguirem uma posição nesse cenário extremamente concorrido. A crise econômica ainda é um pilar a ser derrubado, pois o volume de desempregados no país permanece alto. Dentro desse cenário com características desafiadoras para o governo, existem situações que são e continuarão sendo importantes para todo profissional: a sua capacidade de se desenvolver, atualizar, repensar o seu mercado e criar oportunidades para se recolocar.
A Moving Market conversou com Eduardo Felix, administrador de empresas, especialista em gestão em saúde e em administração pública. Profissional com mais de dez anos de experiência na área de gestão de pessoas. O seu perfil no linkedin apresenta um rico repertório de orientações e dicas práticas sobre entrevista de emprego. A sua função atual é treinar os seus clientes para entrevistas de trabalho, com foco na carreira. Confiram o bate papo muito interessante que tivemos sobre: mercado de trabalho, desenvolvimento profissional e recolocação.
1. A Você S/A na sua última edição, traz uma matéria sobre as carreiras múltiplas. Atuar em mais de uma área pode acelerar o desenvolvimento e aumentar a empregabilidade, qual a sua visão sobre esse novo cenário do mercado de trabalho?
R: A revista traz essa visão, mas é preciso ter cuidado com as generalizações. Nos Estados Unidos, conforme mencionado na última edição, ter várias carreiras simultaneamente é uma tendência: o fenômeno que recebeu o nome de Portfolio Career – ou Carreira em Portfólio está ganhando mais adeptos por causa da flexibilização do mercado. A minha visão é que no Brasil ainda há muito preconceito e que o profissional que atua em muitas áreas pode ser visto de forma pejorativa, como alguém que não sabe o que quer e não tem maturidade para ter uma carreira linear. Há também empresas que valorizam o profissional que tem carreiras simultâneas, por isso é muito importante que o profissional planeje a sua carreira e esteja por dentro do que acontece no mercado de trabalho.
2. O Brasil permanece com um alto índice de desemprego, para um profissional que está há um tempo fora do mercado de trabalho, quais as suas orientações?
R: Em primeiro lugar, entender como está o mercado atualmente: com a demanda de candidatos por vagas muito maior do que a oferta de empregos – com isso os salários e benefícios tendem a ser mais baixos. Muitas empresas já começam o processo seletivo, muitas vezes já por telefone, perguntando sobre a pretensão salarial. Indico o site Love Mondays. Para calcular sua pretensão, deve haver razoabilidade da parte da pessoa. Alguns não vão voltar ao mercado com o salário que recebiam.
Passando por esse ponto, a administração do tempo é fundamental, já que o desempregado passa a ter tarefas domésticas que podem demandar muito tempo. É preciso priorizar as atividades e entender que atualmente arrumar um emprego é um emprego.
Quem está fora deve tentar se diferenciar e a melhor forma para que isso aconteça é através das atualizações profissionais. Atualmente há muitos cursos, inclusive online e gratuitos, não só de extensão de curta e média duração, como também graduações e pós-graduações. É igualmente importante adquirir conhecimentos através de leitura de obras da sua área de formação e atuação.
Por último, o candidato deve entender a dinâmica atual do envio de currículos, principalmente nos sites tradicionais de recrutamento, como o Vagas.com e Infojobs, nos quais as palavras-chave bem escolhidas fazem toda diferença de forma positiva. A preparação para a entrevista deve ser concomitante ao envio de currículos, já que quando surge um convite, geralmente é para o dia seguinte, ou seja, não há tempo para o candidato se preparar, o que gera reprovações.
3. Na sua experiência nesse mercado de recolocação, o envio do currículo ainda tem uma efetividade ou as indicações e o currículo “vivo” nas redes sociais podem trazer mais resultados?
R: Há dois tipos de indicações. Uma delas eu chamo de indicação quente, que é aquela que o candidato já está com os pés dentro da empresa. São cada vez mais raras. No outro tipo de indicação, deixam o currículo do candidato no RH ou com o gestor, o que facilita sua participação no processo seletivo. O Networking, portanto, facilita bastante pelo menos a participação do candidato no processo seletivo. O envio do currículo também tem efetividade, porém, representa um percentual bem menor em relação às indicações, já que a maioria das pessoas busca vagas por meio de sites tradicionais, como o Vagas e Infojobs, no site das empresas, na página de vagas do Linkedin e em Consultorias. O Networking é o ponto no qual o candidato deve utilizar a maior parte do seu tempo, pois a probabilidade de sucesso é maior.
4. Quais as principais habilidades e competências que são essenciais para esse novo mercado?
R: A comunicação – saber ouvir. Ouvir para entender e depois responder. Interpretar. Vai desde a entrevista até uma reunião. A inteligência emocional também é muito importante e com ela a resiliência, já que o profissional atual normalmente atua em cenários em que há pressão de muitas formas. Outra que considero importante é aprender a aprender, ter paixão por novos conhecimentos. Apesar de eu considerar essas competências como essenciais, o candidato deve ser situacional, pois cada empresa faz (ou pelo menos deveria fazer) um mapeamento das competências organizacionais, do cargo e do candidato ideal. Portanto, a adaptação e flexibilidade também são muito importantes. Completam a lista: liderança, criatividade, planejamento, trabalho em equipe, visão sistêmica, orientação para resultados e cultura da qualidade. Fonte: Livro Gestão por Competências. Autora: Maria Rita Gramigna.
5.O que você recomenda para os profissionais se desenvolverem e aproveitar as oportunidades que surgirão com o mercado reaquecendo
R: Aos desempregados: que se mantenham atualizados. Há uma grande variedade de cursos online gratuitos, ebooks, artigos no Linkedin e outros meios pagos, caso tenham condições. Além disso, é fundamental administrar bem o tempo, pois atualmente arrumar um emprego é um emprego.
Aos que estão empregados: que façam o mesmo que os desempregados, afinal, ninguém sabe quando vai se desentender com um chefe ou um colega de trabalho, quando vai se desmotivar na atual empresa, dentre outros aspectos. Então é necessário saber qual é o seu valor de mercado e ser mais preciso ao participar de processos seletivos, já que é uma falha muito comum uma pessoa que ficou muito tempo em uma empresa se desesperar quando é demitida – o desespero aumenta quando fica por exemplo, cinco anos sem fazer uma entrevista e é convidado para alguma.